Márcio Tubino

Márcio Tubino e a viagem da música brasileira através de seus músicos

Em final de 1988, eu partia juntamente com o grupo de música instrumental Raiz de Pedra, de Porto Alegre, para minha primeira viagem para Europa. O grupo Raiz de Pedra, exista já há 10 anos e se tornara muito famoso na cidade sendo referência até hoje, não só no sul, como em todo o Brasil e lembrado com muito afeto por seus inúmeros fãs.

Porém, não era nada fácil viajar com um grupo musical naquela época. Dentro do país já era difícil, para fora, se tornava uma aventura. Patrocinados pela empresa Riocel, exportadora de celulose, o grupo embarcou em um de seus navios e assim matéria bruta para papel e matéria prima para arte foram exportadas juntas do Rio Grande do Sul para a Alemanha. Os pequenos concertos realizados pelo grupo em Hamburgo, Munique, Regensburg e outras cidades alemãs renderam ao grupo um convite para a gravação de um CD, novidade ainda naqueles anos e após a gravação seguiram-se várias tournees. Sem perceber, Márcio foi se tornando o músico imigrante que é hoje.

Após um período vivendo entre Brasil e Alemanha fixei residência em Munique e vive oficialmente na capital da Baviera desde meados de 1993. Na minha carreira desde o Brasil, tive oportunidade de trabalhar com grandes nomes como Egberto Gismonti, Joe Zawinul, Dusko Goykowich, Renato Borghetti, Djalma Corrêa entre tantos, dividindo palco em festivais com grandes artistas como Toots Thielemans, Monty Alexander, João Donato, Vagner Tiso, Helio Delmiro e tive o prazer de ser convidado para shows por artistas alemães de grande importância como Willy Astor e recentemente com outro ícone alemão Wolfgang Niedecken em recente apresentação para um público de mais de 25 mil pessoas.

 

Após vários discos como compositor com o Raiz de pedra ou trabalhos solo, cheguei ao segundo CD do seu mais recente projeto chamado ARTet , o ” Márcio Tubino & ARTet, Community- live at Bird`s Eye”, gravado ao vivo em Basel, na Suíça. O primeiro CD do ARTet, teve vários músicos convidados e foi gravado entre África, Brasil e Alemanha em diversas cidades, contando com texto de apresentação de Luis Fernando Veríssimo e participação do escritor bávaro Herbert Schneider na faixa „Onde todos estão“. Já este segundo trabalho trás o charme da gravação ao vivo em um clube de jazz na Europa e os convidados farão sua participação de maneira diferente. Para cada música de Márcio, haverá um poeta, um pintor, um dançarino ou um cineasta que ilustrará a faixa com sua arte representada graficamente e em links no booklet que poderão ser automaticamente acessadas por celular através de um QR(código de leitura). Estes trabalhos serão postados em um portal chamado Community que será um lugar para a promoção da arte e de projetos de desenvolvimento humano e proteção do meio ambiente.

Interessante no grupo ARTet, é que atualmente todos seus integrantes são brasileiros que vivem na Europa entre Alemanha e Áustria. Apesar de minhas composições serem instrumentais contemporâneos com linguagem jazzística é inegável a influência brasileira em seu trabalho. O que levou Luis Fernando Veríssimo que batizar o estilo do ARTet de “música global brasileira“.